JOCULATORES DEI
JOCULATORES DEI
CRISTINA COTA (CESEM/FCSH-UNL)
A sensibilidade poética e musical de São Francisco de Assis (1182-1226) [1] cultivada desde muito cedo na sua vida, foi certamente influenciada pela arte trovadoresca provençal que atravessava a Itália no século XIII, ali levando muitos trovadores e jograis.
As Fontes Franciscanas concordam em descrever o futuro santo como o “rei das festas” em Assis, um jovem que apesar das suas maneiras delicadas e corteses, da alegria e generosidade que o caracterizavam, era um folgazão: «querendo a admiração de todos, esforçava-se por ser o primeiro nos faustos da vanglória, nos jogos e passatempos, nos ditos jocosos e vãos, nos descantes [cantilenas, cantigas populares, cantigas ao desafio], nas roupas delicadas e luxuosas».[2]
A sensibilidade poética e musical de São Francisco de Assis (1182-1226) [1] cultivada desde muito cedo na sua vida, foi certamente influenciada pela arte trovadoresca provençal que atravessava a Itália no século XIII, ali levando muitos trovadores e jograis.
Francisco era igualmente fruto de um ideal do seu tempo, o ideal da Cavalaria e das Cruzadas que o conduziriam, após a sua conversão, ao arquétipo do novo Cavaleiro de Cristo, que não hesita em eleger como sua Dama, a Pobreza, combatendo no mundo cantando os Louvores de Deus. Para isso, adopta o francês, como o idioma por excelência dos sentimentos de cavalaria.
O Espelho de Perfeição, um dos textos que integram as Fontes Franciscanas, narra-nos um episódio que ilustra bem esta simbiose “cavaleiro-jogral” em São Francisco. Inebriado de amor e compaixão por Cristo, o santo procedia por vezes assim:
A suavíssima melodia espiritual que botava dentro dele jorrava frequentemente para o exterior e encontrava expressão na língua francesa, e a poesia dos murmúrios divinos ouvidos por ele em segredo irrompia em cânticos de júbilo nesta mesma língua. Outras vezes colhia do chão um pedaço de madeira e colocava-o sobre o braço esquerdo; com a mão direita pegava outro pedaço à maneira de arco e passava-o e repassava-o sobre o primeiro, como se estivesse a tocar viola ou outro instrumento. Fazendo os gestos apropriados, cantava em francês ao Senhor Jesus Cristo. Toda esta jovialidade terminava em lágrimas, e a alegria convertia-se em compaixão pelos sofrimentos de Cristo. Nessas ocasiões, arrancava do coração contínuos suspiros e, redobrando os seus gemidos, esquecia-se do instrumento que tinha nas mãos e ficava longo tempo arroubado em êxtase celestial.[3]
São Francisco pretendia que os irmãos fossem pelo mundo, pregando o Evangelho e cantando os Louvores do Senhor – as Laude Domini, depois do sermão, em todos os lugares, como Jograis de Deus – Joculatores Dei, porque: «Que são, na verdade, os servos de Deus, senão jograis que procuram comover o coração dos homens, até os levar às alegrias do espírito?»
Francisco, que igualmente se intitulava o “Arauto de Deus” – Giullare di Dio,[4] ao falar assim de “servos de Deus”, tinha em mente os frades menores, postos ao serviço do povo para sua salvação. «Queria e dizia que fizessem assim: primeiro, falaria ao povo o mais competente para pregação; depois cantariam todos os Louvores do Senhor, como jograis de Deus. Acabado o cântico, o pregador diria ao povo: «Nós somos os jograis de Deus, e a única recompensa que nós queremos é que leveis uma vida verdadeiramente penitente».[5]
Esta “nova” lírica mística, cantada em língua vernacular, reconfigura a função do jogral medieval, “profano”, transpondo-o para o plano religioso como jogral “divino”, que doravante canta e cultiva o amor divino e espiritual em contraste com a cultura do amor cortês. Por outro lado, os sermões mendicantes associados aos cânticos franciscanos de louvor cumprem outro objectivo muito caro à espiritualidade e mística franciscanas; a renovação da Igreja e a captação da atenção dos seus fiéis e ouvintes, não pela condenação (que era a predisposição da época manifestada por vários movimentos considerados heréticos), mas pela salvação, numa acção apostólica que consistia em consolar, elevar os corações para louvar a Deus, provocar a alegria espiritual (pedra de toque da mística franciscana), de acordo com harmonias poéticas e musicais.
Sob o manto desta nova poesia mística cantada em vernáculo, de raízes fitas no Cântico do Irmão Sol ou Cântico das Criaturas (no original, Canticum Fratris Solis vel Laudes Creaturarum), cerca do ano de 1225,[6] São Francisco trilhou o caminho para uma nova tradição do cântico de louvor, “distanciada” do cântico litúrgico, e que nos permite a compreensão do seu significado na oração e pregação franciscanas.
O santo Poverello compôs a poesia do Cântico das Criaturas na língua do povo (no dialecto da Úmbria),[7] estruturada à semelhança dos salmos 104, 148 e dos salmos 149-150, concebidos principalmente para louvar o Senhor.[8]Dirige-se, em primeiro lugar, ao Pai de toda a Criação, «Altíssimo, Omnipotente e bom Senhor», para a seguir louvar todas as criaturas nossas irmãs: o sol, a lua e as estrelas, o vento e as nuvens, a água e o fogo, até finalizar o seu louvor com a irmã morte.
Destes cânticos de júbilo, em que o santo todo se expandia,[9] não chegaram aos nossos dias senão as suas palavras e poesia mística, se bem que as Fontes Franciscanas,[10] nos informem que São Francisco inventou, e ditou, as melodias que lhes devia corresponder.
Assim foi até ao seu último momento de vida, quando compôs e ensinou a melodia do Cântico do Irmão Sol aos seus irmãos.[11] Chamou Frei Pacífico, conhecido por «Rei dos versos» e «hábil mestre de coro»,[12] para escolher os irmãos aos quais ensinaria este cântico, para irem pelo mundo, a todos os lugares.
O manuscrito onde o Cântico das Criaturas foi escrito,[13] mostra-nos um espaço acima das duas primeiras linhas de versos destinado à notação musical mas que, infelizmente, se encontra em branco.[14]
A estrutura do Cântico está organizada como nos salmos de David, com versos repartidos e rimas em assonância; é provável, portanto, que a música tenha sido pensada como um canto silábico, ou seja, uma nota, ou no máximo duas, por sílaba, cumprindo o modelo do salmista gregoriano.[15]
IL CANTICO DELLE CREATURE
ou
IL CANTICO DI FRATE SOLE E SORELLA LUNA
(texto em italiano da época)
Altissimu, onnipotente, bon Signore,
tue so’ le laude, la gloria e l’honore et onne benedictione.
Ad te solo, Altissimo, se konfano,
et nullu homo ène dignu te mentovare.
Laudato sie, mi’ Signore, cum tucte le tue creature,
spetialmente messor lo frate sole,
lo qual è iorno, et allumini noi per lui.
Et ellu è bellu e radiante cum grande splendore:
de te, Altissimo, porta significatione.
Laudato si’, mi’ Signore, per sora luna e le stelle:
in celu l’ài formate clarite et pretiose et belle.
Laudato si’, mi’ Signore, per frate vento
et per aere et nubilo et sereno et onne tempo,
per lo quale a le tue creature dài sustentamento.
Laudato si’, mi’ Signore, per sor’aqua,
la quale è multo utile et humile et pretiosa et casta.
Laudato si’, mi’ Signore, per frate focu,
per lo quale ennallumini la nocte:
ed ello è bello et iocundo et robustoso et forte.
Laudato si’, mi’ Signore, per sora nostra matre terra,
la quale ne sustenta et governa,
et produce diversi fructi con coloriti flori et herba.
Laudato si’, mi’ Signore, per quelli ke perdonano
per lo tuo amore et sostengo infirmitate e tribulatione.
Beati quelli ke ‘l sosterrano in pace,
ka da te, Altissimo, sirano incoronati
Laudato si’, mi’ Signore, per sora nostra morte corporale,
da la quale nullu homo vivente pò skappare:
guai a·cquelli ke morrano ne le peccata mortali;
beati quelli ke trovarà ne le tue sanctissime voluntati,
ka la morte secunda no ‘l farrà male
Laudate e benedicete mi’ Signore et rengratiate
e serviateli cum grande humilitate.
CÂNTICO DAS CRIATURAS
ou
CÂNTICO DO IRMÃO SOL
Altíssimo, Omnipotente, Bom Senhor
Teus são o Louvor, a Glória, a Honra e toda a Bênção.
Louvado sejas, meu Senhor,
com todas as Tuas criaturas, especialmente o senhor irmão Sol,
que clareia o dia e que, com a sua luz, nos ilumina. Ele é belo
e radiante, com grande esplendor; de Ti, Altíssimo, é a imagem.
Louvado sejas, meu Senhor,
pela irmã Lua e pelas estrelas, que no céu formaste, claras.
preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor.
pelo irmão vento, pelo ar e pelas nuvens,
pelo sereno e por todo o tempo em que dás sustento às Tuas criaturas.
Louvado sejas, meu Senhor,
pela irmã água, útil e humilde, preciosa e casta.
Louvado sejas, meu Senhor,
pelo irmão fogo, com o qual iluminas a noite.
Ele é belo e alegre, vigoroso e forte.
Louvado sejas, meu Senhor pela nossa irmã, a mãe terra,
que nos sustenta e governa, produz frutos diversos, flores e ervas.
Louvado sejas, meu Senhor pelos que perdoam
pelo Teu amor e suportam as enfermidades e tribulações.
Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal,
da qual homem algum pode escapar.
Louvai todos e bendizei o meu Senhor!
Dai-Lhe graças e servi-O com grande humildade!
LOUVORES A DEUS ALTÍSSIMO
(Bilhete para Frei Leão)
Vós sois o santo Senhor e Deus único, que operais maravilhas (Sl 76,15).
Vós sois o Forte.
Vós sois o Grande.
Vós sois o Altíssimo.
Vós sois o Rei onipotente, santo Pai, Rei do céu e da terra.
Vós sois o Trino e Uno, Senhor e Deus, Bem universal.
Vós sois o Bem, o Bem universal, o sumo Bem, Senhor e Deus, vivo e verdadeiro.
Vós sois a delícia do amor.
Vós sois a Sabedoria.
Vós sois a Humildade.
Vós sois a Paciência.
Vós sois a Segurança.
Vós sois o Descanso.
Vós sois a Alegria e o Júbilo.
Vós sois a Justiça e a Temperança.
Vós sois a plenitude da Riqueza.
Vós sois a Beleza.
Vós sois a Mansidão.
Vós sois o Protetor.
Vós sois o Guarda e o Defensor.
Vós sois a Fortaleza.
Vós sois o Alívio.
Vós sois nossa Esperança.
Vós sois nossa fé.
Vós sois nossa inefável Doçura.
Vós sois nossa eterna Vida,
ó grande e maravilhoso Deus, Senhor onipotente,
misericordioso Redentor.
NOTAS
[1] São Francisco nasceu em Assis, na Úmbria (região da Itália central), cerca de 1181-1182. Era filho de Pietro de Bernardone, um abastado e próspero comerciante de tecidos. Foi baptizado na catedral de San Rufini e recebeu o nome Giovanni, segundo o gosto de sua mãe, Madonna Pica, da nobre família provençal dos Boulermont. Diz a lenda que, durante o baptismo, um peregrino misterioso se dirigiu à criança e a abençoou, predizendo-lhe o futuro de “Renovador”. Na altura do seu nascimento, o seu pai encontrava-se ausente em viagem de negócios pelo sul de França. De regresso a Assis, decide mudar o nome do filho de Giovanni para Francesco (Francisco), em homenagem a essa mesma região onde conheceu a sua esposa e da qual trazia a maior parte das suas mercadorias. Francisco, apesar de à partida estar destinado a seguir o negócio da família, era igualmente atraído pelo ideal da Cavalaria e das Cruzadas. Em 1205, querendo tornar-se cavaleiro, junta-se ao exército papal e vai para a guerra na Puglia. Em Spoleto tem uma visão em sonho durante a qual escuta: “Quem te pode ser mais útil: o senhor ou o servo? Então, porque preferes o servo ao Senhor?”. Regressa a Assis e atravessa a partir daqui um período de muita reflexão e oração que o levaria, em 1209, a renunciar a tudo para seguir a Cristo.
[2] Ainda assim, manifestava uma simpatia instintiva para com os pobres, não recusando esmola nem permitindo «a mínima afronta ou injustiça contra quem quer que fosse» (2C, Cap. I, 2 -3).
[3] EP, Cap. XCIII.
[4] 1C, Cap. VII, 16.
[5] LP, 43.
[6] LP, idem.
[7] Para além da língua vernacular da sua terra, São Francisco falava latim (o santo teve uma educação superior à da média do seu tempo, recebendo a sua formação dos padres da igreja de S. Jorge em Assis); exprimia-se não raras vezes em francês, língua aprendida com a sua mãe e pelos contactos dos negócios do seu pai nas regiões provençais. A sua pregação também deveria ser feita na língua vulgar de modo a se poder aproximar e fazer compreender melhor pelo povo. Para a leitura integral deste belo poema do Cântico das Criaturas, consultem-se as páginas anexas, item 1, com as várias versões em italiano actual, em português e no dialecto úmbrico (língua natal de São Francisco de Assis, aparentado com o latim). Segundo os investigadores, este cântico é o único que se conserva em vulgar, tal como foi ditado.
[8] Convidar as criaturas a louvar o Senhor, seu Criador, é um tema recorrente e comum nos Salmos.
[9] 1C, Cap. II, 93.
[10] As primeiras fontes documentais sobre São Francisco de Assis estão reunidas num único volume intitulado Fontes Franciscanas I – São Francisco de Assis, com edição em Portugal, pela Editora Franciscana. Este volume é constituído pelos escritos de São Francisco, as primeiras biografias, e outros documentos. Frei Tomás de Celano é o primeiro biógrafo de São Francisco, tarefa que lhe foi encomendada por Gregório IX por altura da canonização do santo. Terminou a “Vida Primeira” em 1228-1229, e iniciou uma nova biografia, a “Vida Segunda” em 1247, por ordem do Ministro Geral Crescentius de Iesi, com um maior detalhe sobre a vida de São Francisco, testemunhada por aqueles que com ele haviam privado. Frei Tomás de Celano redigiu ainda o “Tratado dos Milagres” (1250). Consideram-se ainda da sua autoria, o “Anónimo Perusino”, a “Legenda Perusina” e a “Legenda dos Três Companheiros”, se bem que exista alguma discussão em torno das datas em que foram escritos, o que os fará pertencer a outro autor. Neste sentido, pensa-se que estas três fontes terão sido escritas, ou antes de 1247, ou entre 1266 e 1318. O segundo biógrafo de São Francisco de Assis foi São Boaventura (1217 – 1274), eleito Ministro Geral dos Franciscanos em 1257. Para além dos ensaios e escritos espirituais que nos deixou, escreveu duas biografias de São Francisco, respectivamente a “Legenda Maior” (1262-1263), e “Legenda Menor” (1262-1263). Os restantes documentos incluem as “Florinhas de S. Francisco de Assis e seus Companheiros” (autoria de Fr. Hugolino de Monte Jorge, 1328 - 1343), onde se incluem “As considerações sobre as Chagas de São Francisco”, “Vida de Frei Junípero”, o “Sacrum Commercium-Mística Aliança”(1240-1270), e “Testemunhos estranhos à Ordem e outros fragmentos”(séc. XIII).
[11] Já bem perto da morte, São Francisco ainda compôs outro cântico, letra e música, para consolação das Senhores Pobres (Santa Clara e as suas irmãs) do convento de São Damião: “Ouvi Pobrezinhas” (no original, Audite Poverelle), Cf. LP 45. Desconhece-se a música, mas o texto foi encontrado pelo Pe. Giovanni Bocalli (OFM), num códice pertencente ao convento de Santa Clara de Verona. Dele existem duas cópias: uma do séc. XV e outra do séc. XVII. As Fontes Franciscanas fazem referências a outros hinos e cânticos que São Francisco compôs: “Louvores ao Deus Altíssimo”, “Exortação ao Louvor de Deus”, “Louvores a dizer antes de todas as Horas”, “Saudação à Virgem Maria”, “Saudação às Virtudes”. Muitos outros cânticos foram compostos pelo santo poeta, segundo referência directa nas fontes, mas dos quais nada sabemos.
[12] 1C, idem.
[13] Este manuscrito encontra-se na Biblioteca Comunale di Assisi, sob o número de cota MS338, e diz-nos sobre a origem deste cântico: «Começam os louvores das Criaturas, que o bem-aventurado Francisco compôs, para louvor e honra de Deus, quando estava doente em São Damião».
[14] REESE, Gustav, Music in the Middle Ages: with an introduction on the Music of Ancient Times, W.W. Norton & Company, 1940, p. 237.
[15] BRANCA, Vittore, Il cantico di frate sole. Studio delle fonti e testo critico, L. S. Olschki, 1950, p. 63. Referência do livro, obtida através da página da internet: http://knol.google.com/k/il-cantico-delle-creature-di-San Francesco?collectionId=2sdlrsughj9iw.702&position=6#.
BIBLIOGRAFIA
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BARR, Cyrilla M. (Sr.), The Monophonic Lauda and the Lay Religious Confraternities of Tuscany and Umbria in the Late Middle Ages. Kalamazoo: Medieval Institute Publications, 1988.
BERRY, Mary, «Franciscan Friars», The New Grove Dictionary of Music and Musicians, Stanley Sadie (ed.), Londres, Macmillan, 2ª ed., 2001, pp. 776-777.
BRANCA, Vittore, Il cantico di frate sole. Studio delle fonti e testo critico, L. S. Olschki, 1950.
DUFFIN, Ross W. (Ed.), A Performer’s Guide to Medieval Music, Bloomington, Indiana University Press, 2000.
Fontes Franciscanas I – São Francisco de Assis, Escritos, Biografias, Documentos, Editorial Franciscana, Braga, 1994.
FRANCO, José Eduardo (Dir.), Dicionário Histórico das Ordens e Instituições afins em Portugal, Gradiva, 2010.
HEFFERNAN, Thomas J. & MATTER, E. Ann (Ed.), The Liturgy of the Medieval Church, Medieval Institute Publications, Western Michigan University, 2nd ed, 2005.
REESE, Gustav, Music in the Middle Ages: with an introduction on the Music of Ancient Times, W.W. Norton & Company, 1940.
TISCHLER, Hans (ed.), The earliest laude: the Cortona Hymnal, The Institute of Medieval Music, 2002.
VETTORI, Alessandro, Poets of divine love: Franciscan mystical poetry of the thirteenth century, Fordham University Press, 2004. WILSON, Blake, Music and Merchants: The Laudesi Companies of Republican Florence. Oxford: Clarendon, 1992.
---------------------, «Lauda», The New Grove Dictionary of Music and Musicians, Stanley Sadie (ed.), Londres, Macmillan, 2ª ed., 2001, pp.538-543.
---------------------, (Ed.) & BARBIERI, Nello (Trans.), The Florence Laudario: an edition of Florence, Biblioteca Nazionale Central, Banco Rari 18, Recente Researches in the music of the Middle Ages and Early Renaissance, Vol. 29, A-R Editions, 1995.
WEBOGRAFIA
http://parliamoitaliano.altervista.org/il-cantico-delle-creature/
JOCULATORES DEI
CRISTINA COTA (CESEM/FCSH-UNL)
A sensibilidade poética e musical de São Francisco de Assis (1182-1226) [1] cultivada desde muito cedo na sua vida, foi certamente influenciada pela arte trovadoresca provençal que atravessava a Itália no século XIII, ali levando muitos trovadores e jograis.
As Fontes Franciscanas concordam em descrever o futuro santo como o “rei das festas” em Assis, um jovem que apesar das suas maneiras delicadas e corteses, da alegria e generosidade que o caracterizavam, era um folgazão: «querendo a admiração de todos, esforçava-se por ser o primeiro nos faustos da vanglória, nos jogos e passatempos, nos ditos jocosos e vãos, nos descantes [cantilenas, cantigas populares, cantigas ao desafio], nas roupas delicadas e luxuosas».[2]
A sensibilidade poética e musical de São Francisco de Assis (1182-1226) [1] cultivada desde muito cedo na sua vida, foi certamente influenciada pela arte trovadoresca provençal que atravessava a Itália no século XIII, ali levando muitos trovadores e jograis.
Francisco era igualmente fruto de um ideal do seu tempo, o ideal da Cavalaria e das Cruzadas que o conduziriam, após a sua conversão, ao arquétipo do novo Cavaleiro de Cristo, que não hesita em eleger como sua Dama, a Pobreza, combatendo no mundo cantando os Louvores de Deus. Para isso, adopta o francês, como o idioma por excelência dos sentimentos de cavalaria.
O Espelho de Perfeição, um dos textos que integram as Fontes Franciscanas, narra-nos um episódio que ilustra bem esta simbiose “cavaleiro-jogral” em São Francisco. Inebriado de amor e compaixão por Cristo, o santo procedia por vezes assim:
A suavíssima melodia espiritual que botava dentro dele jorrava frequentemente para o exterior e encontrava expressão na língua francesa, e a poesia dos murmúrios divinos ouvidos por ele em segredo irrompia em cânticos de júbilo nesta mesma língua. Outras vezes colhia do chão um pedaço de madeira e colocava-o sobre o braço esquerdo; com a mão direita pegava outro pedaço à maneira de arco e passava-o e repassava-o sobre o primeiro, como se estivesse a tocar viola ou outro instrumento. Fazendo os gestos apropriados, cantava em francês ao Senhor Jesus Cristo. Toda esta jovialidade terminava em lágrimas, e a alegria convertia-se em compaixão pelos sofrimentos de Cristo. Nessas ocasiões, arrancava do coração contínuos suspiros e, redobrando os seus gemidos, esquecia-se do instrumento que tinha nas mãos e ficava longo tempo arroubado em êxtase celestial.[3]
São Francisco pretendia que os irmãos fossem pelo mundo, pregando o Evangelho e cantando os Louvores do Senhor – as Laude Domini, depois do sermão, em todos os lugares, como Jograis de Deus – Joculatores Dei, porque: «Que são, na verdade, os servos de Deus, senão jograis que procuram comover o coração dos homens, até os levar às alegrias do espírito?»
Francisco, que igualmente se intitulava o “Arauto de Deus” – Giullare di Dio,[4] ao falar assim de “servos de Deus”, tinha em mente os frades menores, postos ao serviço do povo para sua salvação. «Queria e dizia que fizessem assim: primeiro, falaria ao povo o mais competente para pregação; depois cantariam todos os Louvores do Senhor, como jograis de Deus. Acabado o cântico, o pregador diria ao povo: «Nós somos os jograis de Deus, e a única recompensa que nós queremos é que leveis uma vida verdadeiramente penitente».[5]
Esta “nova” lírica mística, cantada em língua vernacular, reconfigura a função do jogral medieval, “profano”, transpondo-o para o plano religioso como jogral “divino”, que doravante canta e cultiva o amor divino e espiritual em contraste com a cultura do amor cortês. Por outro lado, os sermões mendicantes associados aos cânticos franciscanos de louvor cumprem outro objectivo muito caro à espiritualidade e mística franciscanas; a renovação da Igreja e a captação da atenção dos seus fiéis e ouvintes, não pela condenação (que era a predisposição da época manifestada por vários movimentos considerados heréticos), mas pela salvação, numa acção apostólica que consistia em consolar, elevar os corações para louvar a Deus, provocar a alegria espiritual (pedra de toque da mística franciscana), de acordo com harmonias poéticas e musicais.
Sob o manto desta nova poesia mística cantada em vernáculo, de raízes fitas no Cântico do Irmão Sol ou Cântico das Criaturas (no original, Canticum Fratris Solis vel Laudes Creaturarum), cerca do ano de 1225,[6] São Francisco trilhou o caminho para uma nova tradição do cântico de louvor, “distanciada” do cântico litúrgico, e que nos permite a compreensão do seu significado na oração e pregação franciscanas.
O santo Poverello compôs a poesia do Cântico das Criaturas na língua do povo (no dialecto da Úmbria),[7] estruturada à semelhança dos salmos 104, 148 e dos salmos 149-150, concebidos principalmente para louvar o Senhor.[8]Dirige-se, em primeiro lugar, ao Pai de toda a Criação, «Altíssimo, Omnipotente e bom Senhor», para a seguir louvar todas as criaturas nossas irmãs: o sol, a lua e as estrelas, o vento e as nuvens, a água e o fogo, até finalizar o seu louvor com a irmã morte.
Destes cânticos de júbilo, em que o santo todo se expandia,[9] não chegaram aos nossos dias senão as suas palavras e poesia mística, se bem que as Fontes Franciscanas,[10] nos informem que São Francisco inventou, e ditou, as melodias que lhes devia corresponder.
Assim foi até ao seu último momento de vida, quando compôs e ensinou a melodia do Cântico do Irmão Sol aos seus irmãos.[11] Chamou Frei Pacífico, conhecido por «Rei dos versos» e «hábil mestre de coro»,[12] para escolher os irmãos aos quais ensinaria este cântico, para irem pelo mundo, a todos os lugares.
O manuscrito onde o Cântico das Criaturas foi escrito,[13] mostra-nos um espaço acima das duas primeiras linhas de versos destinado à notação musical mas que, infelizmente, se encontra em branco.[14]
A estrutura do Cântico está organizada como nos salmos de David, com versos repartidos e rimas em assonância; é provável, portanto, que a música tenha sido pensada como um canto silábico, ou seja, uma nota, ou no máximo duas, por sílaba, cumprindo o modelo do salmista gregoriano.[15]
IL CANTICO DELLE CREATURE
ou
IL CANTICO DI FRATE SOLE E SORELLA LUNA
(texto em italiano da época)
Altissimu, onnipotente, bon Signore,
tue so’ le laude, la gloria e l’honore et onne benedictione.
Ad te solo, Altissimo, se konfano,
et nullu homo ène dignu te mentovare.
Laudato sie, mi’ Signore, cum tucte le tue creature,
spetialmente messor lo frate sole,
lo qual è iorno, et allumini noi per lui.
Et ellu è bellu e radiante cum grande splendore:
de te, Altissimo, porta significatione.
Laudato si’, mi’ Signore, per sora luna e le stelle:
in celu l’ài formate clarite et pretiose et belle.
Laudato si’, mi’ Signore, per frate vento
et per aere et nubilo et sereno et onne tempo,
per lo quale a le tue creature dài sustentamento.
Laudato si’, mi’ Signore, per sor’aqua,
la quale è multo utile et humile et pretiosa et casta.
Laudato si’, mi’ Signore, per frate focu,
per lo quale ennallumini la nocte:
ed ello è bello et iocundo et robustoso et forte.
Laudato si’, mi’ Signore, per sora nostra matre terra,
la quale ne sustenta et governa,
et produce diversi fructi con coloriti flori et herba.
Laudato si’, mi’ Signore, per quelli ke perdonano
per lo tuo amore et sostengo infirmitate e tribulatione.
Beati quelli ke ‘l sosterrano in pace,
ka da te, Altissimo, sirano incoronati
Laudato si’, mi’ Signore, per sora nostra morte corporale,
da la quale nullu homo vivente pò skappare:
guai a·cquelli ke morrano ne le peccata mortali;
beati quelli ke trovarà ne le tue sanctissime voluntati,
ka la morte secunda no ‘l farrà male
Laudate e benedicete mi’ Signore et rengratiate
e serviateli cum grande humilitate.
CÂNTICO DAS CRIATURAS
ou
CÂNTICO DO IRMÃO SOL
Altíssimo, Omnipotente, Bom Senhor
Teus são o Louvor, a Glória, a Honra e toda a Bênção.
Louvado sejas, meu Senhor,
com todas as Tuas criaturas, especialmente o senhor irmão Sol,
que clareia o dia e que, com a sua luz, nos ilumina. Ele é belo
e radiante, com grande esplendor; de Ti, Altíssimo, é a imagem.
Louvado sejas, meu Senhor,
pela irmã Lua e pelas estrelas, que no céu formaste, claras.
preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor.
pelo irmão vento, pelo ar e pelas nuvens,
pelo sereno e por todo o tempo em que dás sustento às Tuas criaturas.
Louvado sejas, meu Senhor,
pela irmã água, útil e humilde, preciosa e casta.
Louvado sejas, meu Senhor,
pelo irmão fogo, com o qual iluminas a noite.
Ele é belo e alegre, vigoroso e forte.
Louvado sejas, meu Senhor pela nossa irmã, a mãe terra,
que nos sustenta e governa, produz frutos diversos, flores e ervas.
Louvado sejas, meu Senhor pelos que perdoam
pelo Teu amor e suportam as enfermidades e tribulações.
Louvado sejas, meu Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal,
da qual homem algum pode escapar.
Louvai todos e bendizei o meu Senhor!
Dai-Lhe graças e servi-O com grande humildade!
LOUVORES A DEUS ALTÍSSIMO
(Bilhete para Frei Leão)
Vós sois o santo Senhor e Deus único, que operais maravilhas (Sl 76,15).
Vós sois o Forte.
Vós sois o Grande.
Vós sois o Altíssimo.
Vós sois o Rei onipotente, santo Pai, Rei do céu e da terra.
Vós sois o Trino e Uno, Senhor e Deus, Bem universal.
Vós sois o Bem, o Bem universal, o sumo Bem, Senhor e Deus, vivo e verdadeiro.
Vós sois a delícia do amor.
Vós sois a Sabedoria.
Vós sois a Humildade.
Vós sois a Paciência.
Vós sois a Segurança.
Vós sois o Descanso.
Vós sois a Alegria e o Júbilo.
Vós sois a Justiça e a Temperança.
Vós sois a plenitude da Riqueza.
Vós sois a Beleza.
Vós sois a Mansidão.
Vós sois o Protetor.
Vós sois o Guarda e o Defensor.
Vós sois a Fortaleza.
Vós sois o Alívio.
Vós sois nossa Esperança.
Vós sois nossa fé.
Vós sois nossa inefável Doçura.
Vós sois nossa eterna Vida,
ó grande e maravilhoso Deus, Senhor onipotente,
misericordioso Redentor.
NOTAS
[1] São Francisco nasceu em Assis, na Úmbria (região da Itália central), cerca de 1181-1182. Era filho de Pietro de Bernardone, um abastado e próspero comerciante de tecidos. Foi baptizado na catedral de San Rufini e recebeu o nome Giovanni, segundo o gosto de sua mãe, Madonna Pica, da nobre família provençal dos Boulermont. Diz a lenda que, durante o baptismo, um peregrino misterioso se dirigiu à criança e a abençoou, predizendo-lhe o futuro de “Renovador”. Na altura do seu nascimento, o seu pai encontrava-se ausente em viagem de negócios pelo sul de França. De regresso a Assis, decide mudar o nome do filho de Giovanni para Francesco (Francisco), em homenagem a essa mesma região onde conheceu a sua esposa e da qual trazia a maior parte das suas mercadorias. Francisco, apesar de à partida estar destinado a seguir o negócio da família, era igualmente atraído pelo ideal da Cavalaria e das Cruzadas. Em 1205, querendo tornar-se cavaleiro, junta-se ao exército papal e vai para a guerra na Puglia. Em Spoleto tem uma visão em sonho durante a qual escuta: “Quem te pode ser mais útil: o senhor ou o servo? Então, porque preferes o servo ao Senhor?”. Regressa a Assis e atravessa a partir daqui um período de muita reflexão e oração que o levaria, em 1209, a renunciar a tudo para seguir a Cristo.
[2] Ainda assim, manifestava uma simpatia instintiva para com os pobres, não recusando esmola nem permitindo «a mínima afronta ou injustiça contra quem quer que fosse» (2C, Cap. I, 2 -3).
[3] EP, Cap. XCIII.
[4] 1C, Cap. VII, 16.
[5] LP, 43.
[6] LP, idem.
[7] Para além da língua vernacular da sua terra, São Francisco falava latim (o santo teve uma educação superior à da média do seu tempo, recebendo a sua formação dos padres da igreja de S. Jorge em Assis); exprimia-se não raras vezes em francês, língua aprendida com a sua mãe e pelos contactos dos negócios do seu pai nas regiões provençais. A sua pregação também deveria ser feita na língua vulgar de modo a se poder aproximar e fazer compreender melhor pelo povo. Para a leitura integral deste belo poema do Cântico das Criaturas, consultem-se as páginas anexas, item 1, com as várias versões em italiano actual, em português e no dialecto úmbrico (língua natal de São Francisco de Assis, aparentado com o latim). Segundo os investigadores, este cântico é o único que se conserva em vulgar, tal como foi ditado.
[8] Convidar as criaturas a louvar o Senhor, seu Criador, é um tema recorrente e comum nos Salmos.
[9] 1C, Cap. II, 93.
[10] As primeiras fontes documentais sobre São Francisco de Assis estão reunidas num único volume intitulado Fontes Franciscanas I – São Francisco de Assis, com edição em Portugal, pela Editora Franciscana. Este volume é constituído pelos escritos de São Francisco, as primeiras biografias, e outros documentos. Frei Tomás de Celano é o primeiro biógrafo de São Francisco, tarefa que lhe foi encomendada por Gregório IX por altura da canonização do santo. Terminou a “Vida Primeira” em 1228-1229, e iniciou uma nova biografia, a “Vida Segunda” em 1247, por ordem do Ministro Geral Crescentius de Iesi, com um maior detalhe sobre a vida de São Francisco, testemunhada por aqueles que com ele haviam privado. Frei Tomás de Celano redigiu ainda o “Tratado dos Milagres” (1250). Consideram-se ainda da sua autoria, o “Anónimo Perusino”, a “Legenda Perusina” e a “Legenda dos Três Companheiros”, se bem que exista alguma discussão em torno das datas em que foram escritos, o que os fará pertencer a outro autor. Neste sentido, pensa-se que estas três fontes terão sido escritas, ou antes de 1247, ou entre 1266 e 1318. O segundo biógrafo de São Francisco de Assis foi São Boaventura (1217 – 1274), eleito Ministro Geral dos Franciscanos em 1257. Para além dos ensaios e escritos espirituais que nos deixou, escreveu duas biografias de São Francisco, respectivamente a “Legenda Maior” (1262-1263), e “Legenda Menor” (1262-1263). Os restantes documentos incluem as “Florinhas de S. Francisco de Assis e seus Companheiros” (autoria de Fr. Hugolino de Monte Jorge, 1328 - 1343), onde se incluem “As considerações sobre as Chagas de São Francisco”, “Vida de Frei Junípero”, o “Sacrum Commercium-Mística Aliança”(1240-1270), e “Testemunhos estranhos à Ordem e outros fragmentos”(séc. XIII).
[11] Já bem perto da morte, São Francisco ainda compôs outro cântico, letra e música, para consolação das Senhores Pobres (Santa Clara e as suas irmãs) do convento de São Damião: “Ouvi Pobrezinhas” (no original, Audite Poverelle), Cf. LP 45. Desconhece-se a música, mas o texto foi encontrado pelo Pe. Giovanni Bocalli (OFM), num códice pertencente ao convento de Santa Clara de Verona. Dele existem duas cópias: uma do séc. XV e outra do séc. XVII. As Fontes Franciscanas fazem referências a outros hinos e cânticos que São Francisco compôs: “Louvores ao Deus Altíssimo”, “Exortação ao Louvor de Deus”, “Louvores a dizer antes de todas as Horas”, “Saudação à Virgem Maria”, “Saudação às Virtudes”. Muitos outros cânticos foram compostos pelo santo poeta, segundo referência directa nas fontes, mas dos quais nada sabemos.
[12] 1C, idem.
[13] Este manuscrito encontra-se na Biblioteca Comunale di Assisi, sob o número de cota MS338, e diz-nos sobre a origem deste cântico: «Começam os louvores das Criaturas, que o bem-aventurado Francisco compôs, para louvor e honra de Deus, quando estava doente em São Damião».
[14] REESE, Gustav, Music in the Middle Ages: with an introduction on the Music of Ancient Times, W.W. Norton & Company, 1940, p. 237.
[15] BRANCA, Vittore, Il cantico di frate sole. Studio delle fonti e testo critico, L. S. Olschki, 1950, p. 63. Referência do livro, obtida através da página da internet: http://knol.google.com/k/il-cantico-delle-creature-di-San Francesco?collectionId=2sdlrsughj9iw.702&position=6#.
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WEBOGRAFIA
http://parliamoitaliano.altervista.org/il-cantico-delle-creature/